LUTO: Dr. Drauzio Varella
O luto tem uma fase aguda que
envolve respostas à separação e ao estresse. É caracterizada por saudades,
sentimento de perda, tristeza, pensamentos e imagens da pessoa falecida. Ouvir
a voz, ver e sentir sua presença podem representar formas de alucinações
benignas, sem significado psicopatológico.
Nessa fase, costuma haver
confusão a respeito da própria identidade e do papel no ambiente social,
tendência a afastar-se das atividades habituais, desesperança e diferentes
graus de apatia. Os sintomas incluem ansiedade, disforia, raiva e depressão,
associados a alterações fisiológicas: taquicardia, aumento da pressão arterial,
da produção dos hormônios envolvidos no estresse, distúrbios de sono e
deficiência imunológica.
Vem em seguida, a fase de
adaptação, caracterizada por alternâncias imprevisíveis entre aceitação e
emoções negativas. A intensidade do luto diminui gradativamente com o passar
dos meses, embora os sintomas possam retornar em momentos de dificuldade e em
ocasiões especiais – aniversários, Natal.
Pensamentos e comportamentos
característicos da falta de adaptação e desgostos da vida cotidiana podem
interromper os mecanismos adaptativos e provocar regressão à fase aguda.
Quando surgem as complicações
classificadas como “distúrbio de luto prolongado”, o quadro persiste por
períodos mais longos do que as normas sociais consideram aceitáveis e
comprometem as atividades diárias. A prevalência dessa condição na população
mundial é de 2% a 3%.
Essas porcentagens aumentam para
10% a 20% na perda de uma parceria romântica e atinge os valores mais elevados
entre os pais que perderam filhos. A probabilidade aumenta no caso de mortes
súbitas e diminui quando a perda é de um dos pais, avós ou amigos próximos. O
grupo mais sujeito ao luto prolongado é o das mulheres acima de 60 anos.
As complicações do luto estão
associadas a distúrbios do sono, abuso de drogas, ideações suicidas, depressão
da imunidade, doenças cardiovasculares e dificuldade para seguir tratamentos de
outros problemas de saúde, como hipertensão ou diabetes.
O tratamento de escolha é a
psicoterapia, de preferência conduzida por especialistas em lidar com situações
de luto, profissionais difíceis de encontrar. O objetivo da terapia é restaurar
a autoconfiança, o entusiasmo para planejar o futuro e ajudar a pensar na morte
sem evocar culpa, revolta ou ansiedade.
O papel dos antidepressivos é
controverso, porque faltam estudos bem conduzidos. A maioria dos psiquiatras,
no entanto, procura prescrevê-los em conjunto com a psicoterapia. Embora
limitada, a experiência sugere que os resultados são melhores com a associação.
Publicado em 26/03/2015
www.drauziovarella.com.br
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